Era o tipo de jornal e reportagem que eu jamais me interessaria, mas a manchete me fisgou feito um marlim azul com um anzol cravado na boca:“Espíritos transam com seres vivos durante a noite”, diz Sense Márcia.
A matéria falava das previsões da famosa vidente Márcia Fernandes (Oi? Quem?), que brevemente irá lançar seu livro que atende pelo sugestivo nome de “Xô encosto”.
Segundo a entrevistada, existem espíritos obsessores que são verdadeiros vampiros do sexo e que, durante à noite, podem transar com a gente enquanto dormimos.
– Deve ser por isso que costumo acordar tão cansado, pensei.
“Eles são os incubus e sucubus. Espíritos provenientes do baixo astral. Eles costumam se alimentar da energia de suas vítimas e causam fadiga, dificuldades para dormir e até impotência”, alerta Márcia Fernandes.
Incubus e sucubus? Se ser possuído por espíritos durante a noite já é apavorante, ainda mais sabendo que são incubus e sucubus. Como não tenho nenhum desejo de ser incubado nem sucumbido, minha primeira providência foi não dormir mais de bruços em hipótese nenhuma.
Cogitei inclusive passar a dormir de calça jeans, mas depois li que os espíritos penetram até mesmo em paredes e concluí que seria uma estratégia inútil.
Mas tudo depende de quem são esses espíritos que estão nos assediando. E se for o espírito de uma celebridade linda e escultural de Hollywood? Se não tem chance de pegar em vida…
Fiquei pensando se não poderia ter alguma eventual vantagem nessas aventuras de outro mundo. Há tantas mulheres que reclamam da ausência dos maridos, que se comportam como se fossem fantasmas na própria casa. Então, quem sabe um fantasma de verdade não daria mais conta do recado? E se essa alma penada for sua alma gêmea?
Amethyst, uma mulher de Bristol, na Inglaterra, afirmou para um canal de TV que já teve relações com mais de 20 fantasmas, o que acabou por levar seu casamento ao fim. Hoje, ela diz que perdeu o interesse nos homens e que procura um fantasma pra chamar de seu.
Curioso sobre esse assunto fui pesquisar e descobri que o fenômeno responde pelo nome de espectrofilia e remonta a uma mitologia muito antiga de nórdicos, gregos e romanos, que ganhou força durante a Idade Média, uma época marcada por superstições e crendices de todo tipo.
O fato é que jamais foi comprovado nenhum caso do tipo, até pela dificuldade de se comprovar a materialidade de algo que acontece num plano imaterial, quem sabe meramente imaginário, quando estamos entregues às divagações incontroláveis da nossa mente enquanto dormimos e sonhamos.
Seja como for, não sei se esses fantasmas além de sexo gostam também de ler crônicas de jornais e de internet, então gostaria de deixar aqui registrado que respeito muito toda manifestação de amor e de carinho, mas que no meu caso específico, que esperem por favor que eu vá para o outro lado de lá. Tenho uma vida muito corrida, durmo pouco e preciso acordar com as energias recarregadas para o dia de trabalho que me espera. Mesmo que seja uma fantasminha sobrenatural, com um corpinho (ou uma alma) do outro mundo, eu prefiro as coisas do jeito que já me acostumei.
– Xô, encosto!