Viajar é bom demais. Relaxa, diverte e deixa a gente feliz.
Viajar é tão bom que vicia. Já existe até um termo para isso: a Síndrome de Wanderlust. A pessoa não consegue ficar muito tempo num mesmo lugar, vive planejando as próximas férias, sente um prazer incontrolável em conhecer novos destinos e mal chegou de uma viagem já começa a planejar a próxima. Cada dia mais pessoas decidem bater perna por aí. E agora temos a tribo dos nômades digitais, formada por pessoas que fazem uso da tecnologia para poder trabalhar remotamente e viver onde quiserem, normalmente mudando de cidade ou país com muita frequência, enquanto trabalham em cafés, bares, ônibus e aeroportos.
Somos curiosos por natureza. Gostamos de olhar buracos de fechadura, sonhamos em visitar praias paradisíacas, bisbilhotamos o quintal do vizinho e xeretamos a vida alheia no Facebook.
Tem gente que não gosta de viajar, prefere o conforto daquele pequeno pedaço de mundo que conhece, domina e confia, o pedaço do mundo que tem sua cara, seu formato, seu cheiro. E está tudo bem assim também. Cada um de nós tem um conceito próprio do que seja ser feliz.
E você não precisa necessariamente “viajar” para conhecer lugares novos. Você pode ir à padaria por caminhos diferentes, em horários diferentes e de vez em quando em padarias diferentes também.
Verdade seja dita, quem viaja investe dinheiro e às vezes entra numas furadas. Mas quem viaja também ganha cultura, expande seus horizontes, aumenta seu repertório e sobretudo aumenta sua tolerância para as diferenças que nos tornam humanos, demasiadamente humanos. Viagem é uma das raras coisas que quanto mais você gasta, mais rico (por dentro) você fica.
Mas para que viagem mude você por dentro você precisa estar aberto ao novo.
Uma vez eu presenciei uma cena no restaurante de um hotel na Bahia. O buffet do hotel tinha um zilhão de opções de comidas, quase tudo que você possa imaginar. E tinha um senhor americano que não estava encontrando onde ficava o x burguer. E de fato não tinha. Eu também gosto de xburguer. O problema não é esse. O homem voou 10.000 km pra chegar em outro país e vai querer comer a mesma coisa que ele come todo santo dia? Eu sei que a gente sente saudade da nossa comida, mas se você não se abrir ao novo é como se fosse uma “não viagem” dentro da viagem. Às vezes você vai quebrar a cara e às vezes você vai descobrir coisas fantásticas também.
No final dos anos 80 eu fiz uma viagem para Buenos Aires na Argentina e no meu primeiro dia na cidade descobri que estava acontecendo um festival de rock gratuito numa praça da cidade. Chegando lá quem estava tocando? O Paralamas do Sucesso e uma multidão de argentinos cantando junto com eles. Naquela viagem eu comprei um monte de disco de bandas argentinas e até hoje curto várias delas. E hoje, com a internet, dá para descobrir de a graça coisas de outros países sem sair daqui.
Viajar normalmente é fonte de descoberta, aprendizado e felicidade, mas não necessariamente, porque sempre você leva VOCÊ para viajar com você. E se você for rabugento ou estiver ruminando alguma fase ruim, você vai ser infeliz até em Paris, porque você levou o inferno para passear dentro de você.
Viajar pode também ser fonte de criatividade e inspiração, justamente pelo contato com uma matéria prima diferente, de costumes, língua, comportamento e cultura. A lista de artistas que utilizaram o repertório de viagens como inspiração para suas obras é interminável e inclui Hemingway, Paul Gauguin e Van Gogh.
Parafraseando Fernando Pessoa, viver é preciso, viajar também.
Porque viajar é diversão, diversidade e criatividade.
Alexandre Correa é professor da FGV, escritor e palestrante corporativo. Ele está no YouTube, no Facebook, no Linkedin, no Instagram, no SPC e no Serasa. E não está no Tinder porque sua mulher não deixa.