Mars One, a primeira colônia humana em Marte
Tem muita asneira e informação falsa circulando na internet. Já disseram que o Facebook iria cobrar US$9,99 de todos os usuários que não se cadastrassem. Já mataram um monte de artista vivinho da Silva. Já recebi e-mail dizendo que poderia pôr as mãos em 35 milhões de euros esquecidos numa conta na Nigéria, desde que entrasse em contato com um ser de nome impronunciável (e antecipasse-lhe algumas taxas administrativas, claro). Então eu tive que checar a veracidade da informação.
Mas a notícia era verdadeira: Mais de 100.000 pessoas já se inscreveram para uma viagem sem volta à Marte! Como assim? Uma viagem sem volta à Marte??? Não sei quem é mais maluco, se quem teve a idéia ou se quem aderiu.
A missão Mars One é um projeto idealizado pelo cientista holandês Bas Lansdorp, que visa estabelecer a primeira colônia humana no Planeta Marte a partir de 2023, com astronautas amadores escolhidos a partir de um processo seletivo conduzido via internet. O custo do projeto é estimado em 6 bilhões de dólares, e supostamente será obtido com a renda das inscrições, de patrocínio privado, e, principalmente, com a venda dos direitos de transmissão da missão desses aventureiros espaciais, no que eles imaginam ser o primeiro Big Brother Marte da história. Nunca antes na história deste sistema solar vimos coisa igual.
O problema é que os organizadores ainda não possuem tecnologia para trazer esses astronautas de volta à Terra, então é uma viagem com passagem apenas de ida. Os lunáticos, digo, galácticos, assinam um termo em que se declaram cientes de que não retornarão a este hospitaleiro e maltratado planeta azul.
Claro que visitei o site do projeto e descobri que as inscrições ainda estavam abertas. Fiquei com medo de me inscrever e ser selecionado, então tentei cadastrar a minha sogra (só pra ver como funcionava o processo), mas ela passava da idade limite.
Tive vontade então de inscrever o Justin Bieber, ou o Gabriel Valim, aquele que canta aquela música insuportável:
Piri, pipiri, pipiri, piri piradinha
Ela tá maluca, ela tá doidinha
Já pensou essa chatice reverberando infinitamente pelo espaço sideral? Seria a prova irrefutável da existência de vida desinteligente em outros planetas.
Enfim, o site lista uma enormidade de exigências para poder se qualificar para a missão: resiliência, capacidade de adaptação, curiosidade, auto-confiança, criatividade e versatilidade. Obviamente que não exigem inteligência, porque se a pessoa tiver meio neurônio funcionando não embarca nessa nave furada. Como é que você vai ficar em Marte, para o resto da vida (se vida houver após 7 meses dessa arriscada viagem), com meia dúzia de outros maluquetes, num planeta onde nem Marciano suportou ficar? E se der dor de dente? E se a comida acabar? E se a audiência do reality show cair e cancelarem o programa? E se um dos companheiros for psicopata ou um chato de galocha, o que você faz? Pega uma van interestelar rumo a Júpiter?
Qual é o perfil de maluco que embarca nessa? Endividados? Gente querendo fugir da mulher? São paulinos? Exibicionistas? Entediados?
É realmente um projeto intrépido, mas pra mim não dá. Eu amo viajar, mas adoro voltar para casa, de tal modo que transfiro meu cartão de embarque, em caráter irrevogável, ao Gabriel Valim, que poderá reverberar seus piri piris para todo o sempre, em alguma galáxia muito distante dos meus ouvidos.
