Sempre desconfiei de alguns tipos de diagnósticos.
Técnicos de informática que atribuem aos vírus qualquer anormalidade que aconteça na sua máquina e médicos que atribuem ao stress qualquer problema que aconteça com sua saúde.
Coceira no antebraço?
– Stress!
Queimação após comer geleia de jiló?
– Stress!
– Caspa?
– Stress!
O stress é de fato uma epidemia contemporânea. Levamos uma vida mais corrida, competitiva e exigente do que nosso equipamento biológico veio ajustado de fábrica para suportar. Somos equipamentos 110V ligados numa tomada de 440V. E o corpo acaba reagindo de maneiras inusitadas, de doenças emocionais a coceiras no antebraço.
Quando somos submetidos a longos períodos de stress e não conseguimos lidar adequadamente com ele ou obter pausas intermediárias entre as diversas batalhas cotidianas acabamos com sequelas que se refletem em nossa saúde. É o corpo gritando por socorro.
Ao mesmo tempo, parece ingenuidade acreditar que possamos levar uma vida sem stress ou sem pressões. E tudo indica que a vida será ainda mais estressante no futuro que nos espera. Um mundo em que tudo muda a todo instante será muito mais desafiador, e nos imporá a tarefa de nos reinventarmos toda hora. E se reinventar dá trabalho e provoca stress.
Não parece coincidência o fato de que a palavra stress significa “tensão”, pressão ou força exercida sob algum objeto ou corpo.
Mas talvez valha a pena olhar para o lado positivo do stress. Sim, ele existe.
Em primeiro lugar, o stress é um mecanismo de defesa do organismo, que libera substâncias químicas para que possamos ficar mais pilhados e aptos a enfrentar os problemas.
Sob situações de stress nosso corpo libera adrenalina e cortisol. Isso auxilia a memória, ajuda a tomar decisões com maior rapidez, evita a procrastinação e aumenta o ganho de energia.
Pressionados, somos forçados a nos reinventar e buscar soluções novas, o que aumenta o nosso amadurecimento e autoconhecimento. Em última instância, o stress nos faz crescer. Toda vez que superamos um desafio nos tornamos mais fortes e aptos para escalar montanhas ainda mais altas. E coletivamente vamos obtendo novos ganhos para a sociedade.
Estamos sempre buscando o conforto das situações conhecidas, mas é quando somos desafiados que crescemos.
Claro que precisamos encontrar mecanismos de lidar com o stress e evitar que ele consuma nossa essência vital. Viver não é uma maratona nem um concurso de super heróis. É no equilíbrio entre stress e repouso que encontramos a sabedoria. Até os atletas de alta performance sabem disso.
Vale lembrar também que muitas vezes o stress tem causas internas e não externas. Precisamos aprender a lidar com os desafios da vida e compreender que muitas vezes as coisas darão errado. Cair, chorar, levantar, tentar de novo e aprender coisas novas faz parte da nossa essência desde quando éramos bebês.
Somos como pipocas, que só explodimos e realizamos nosso potencial maior sob a fervura da panela. O resto vira piruá.
A pipoca é um milho que se reinventou após um grande processo de stress.
Viver sob stress permanente não é saudável, mas aprender a conviver com o stress é parte da jornada que nos torna melhores.
E estressante mesmo é viver a frustração de uma vida em que não tivemos a coragem de sermos a melhor versão de nós mesmos.