Os meses chegaram, apressados, em desabalada seqüência: setembro, outubro, novembro, dezembro e janeiro, mas elas teimaram em não dar as caras.
Nem mesmo o pajé Txucarramãe, contratado a peso de ouro para organizar rituais de dança da chuva no Itaquerão lotado, deu jeito na secura.
Um ano sem chuvas, reservatórios vazios, paulistas sem água.
A Rede Globo resolveu fazer uma campanha para minimizar a tragédia humanitária, lançando em rede nacional o Paulista Esperança.
– Para ajudar os paulistas com um copo de água, ligue 0300 789 000. Para doar meio litro de água, ligue 0300 789 001. E para doar um galão de 5 litros, ligue para 0300 789 005.
Nordestinos doaram em massa, solidários com o árido infortúnio dos paulistas.
A cidade de Águas de Lindoia abriu o primeiro museu da água, com uma concorrida exposição de garrafas e copos de água, encerrada logo depois que bandidos armados assaltaram o precioso acervo em exposição.
A falta de chuvas provocou grandes mudanças na vida do Estado.
O Governador Geraldo Alckmin ficou chateado pra chuchu quando perdeu a eleição para Levy Fidélix, que prometeu construir um Aquatrem para trazer água diretamente do Oceano Atlântico até a reserva do Cantareira.
Os congestionamentos para o litoral passaram a durar 2 semanas, deixando apenas o tempo necessário para que o paulistano chegasse até a praia, molhasse as pálidas canelas e subisse a serra de volta, consumindo nesse ritual insano um mês inteiro de férias.
Mas São Paulo é a terra das oportunidades e até mesmo essa terrível seca proporcionou novas oportunidades de negócios.
O perfumista francês Jacques Le Chamberlain ficou milionário vendendo perfumes que simulavam um agradável odor de banho, a nova moda trés chic do jetset paulistano.
Onze milhões de carros paralisaram as rodovias que ligam São Paulo às praias cariocas, obrigando o exército a intervir e o Governo Federal bloquear as estradas interestaduais.
Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Paraná instituíram um rigoroso controle de fronteira para evitar a invasão de refugiados paulistas, sedentos em busca de água nos estados vizinhos.
Até que veio março com as chuvas redentoras que lavaram a alma do Estado, fechando o verão dos ressecados paulistas.
E tudo voltou ao normal no frenesi da terra da garoa, com seus paulistanos felizes e atolados em suas ruas inundadas de poluição e tráfego.