Admito que torci pela Croácia na final contra a França nesta Copa do Mundo de 2018. Aliás, a julgar pelo que vi ouvi e observei, não apenas eu, mas grande parte da população brasileira.
E é pouco provável que essa torcida tenha se dado por qualquer forma de afinidade cultural com a Croácia (embora eu admita uma suspeita simpatia pela Presidenta croata), um país cuja cultura, história e costumes são muito distantes de nós.
O mais provável é que nossa torcida pela Croácia seja motivada por um impulso inconsciente que temos de torcer pelos mais fracos num embate. Torcemos pela Croácia como teríamos torcido pela Colômbia, pela Islândia ou pela Nigéria toda vez que enfrentassem um time mais forte, exceção feita ao Brasil, nossa opção primeira.
Alguns estudiosos até cunharam um termo para explicar o fenômeno: economia emocional. Jimmi Frazier e Eldon Snyder fizeram um estudo em 1991 com 100 estudantes, que sistematicamente torciam pelo time mais fraco num embate simulado. A justificativa, segundo eles, seria a “emoção” advinda da vitória do lado mais fraco, um resultado mais surpreendente e portanto mais prazeroso.
Em disputas eleitorais, os americanos chamam isso de “efeito underdog”, em oposição ao efeito bandwagon (siga o líder), e se caracteriza pela tendência de certos eleitores escolherem o candidato que esteja em desvantagem numa corrida eleitoral.
O termo tem origem no século XIX, quando as lutas de cães eram comuns e designava o cão perdedor do embate, porque este normalmente acabava debaixo do cão vencedor (não por acaso chamado de topdog).
O efeito underdog é bastante comum no ambiente esportivo. Quantas vezes você já não se viu torcendo pela “zebra” num campeonato de futebol? Seja por compaixão ou por um desejo inconsciente de fazer justiça, diminuindo a desigualdade que separa os dois lados, é comum que muitos torcedores se alinhem com o time mais fraco e com menores chances de vencer a disputa.
A bíblica história de Davi e Golias, na qual um jovem pastor consegue a proeza de vencer o gigante filisteu é bastante emblemática do caráter quase mítico que nos impele a nutrir certa simpatia pelos mais fracos numa disputa.
O sentimento mais comum é o de compaixão ou de apreço pela parte mais fraca, mas é possível também uma associação utilitária, como quando alguém torce por uma equipe mais fraca para não ver seu time predileto enfrentando uma grande equipe na etapa seguinte.
Uma das possíveis explicações adicionais para o fenômeno é a adoção da parte mais fraca não por simpatia genuína a esta, mas pelo desejo de ver a queda do lado poderoso e dominador, o que os alemães chamam de Schadenfreude.
O filósofo alemão Nietzsche foi um dos primeiros a abordar o fenômeno do prazer que às vezes sentimos com a desgraça alheia.
Mas nem precisaríamos recorrer aos grandes filósofos e pesquisadores para descobrir algo que a sabedoria popular já sabia há muito tempo:
Pimenta nos olhos dos outros é refresco!