Acabei de voltar de férias na Bahia, e ao contemplar a imensidão que se perdia num degradê de mil tons de azul, surgiu o questionamento: ao longo de milhões de quilômetros de costa oceânica seria quase impossível eleger qual a praia mais bonita do Brasil. É possível inclusive que a praia mais bonita do Brasil, se fosse possível dar esse questionável título a apenas uma, sequer tenha sido ainda descoberta, tamanha é a quantidade de praias virgens, selvagens e deslumbrantes. Quinhentos anos depois dos primeiros portugueses desembarcarem boquiabertos no litoral baiano, ainda não tivemos tempo de desvendar tudo.
Não espanta que em 1987 o jornal americano The Washington Post tenha eleito uma praia brasileira, Jericoacoara, como uma das mais lindas do mundo, numa época em que poucos brasileiros tinham ouvido falar dela.
Temos milhões de quilômetros de praias, mas nossas atrações vão muito além delas. Temos florestas, pantanal, cataratas, metrópoles, cultura, música, folclore, culinária e um povo alegre e sempre disposto a ajudar. Só quem conhece o mau humor e a falta de boa vontade de alguns povos pode dar valor a essa faceta do brasileiro.
A despeito disso, recebemos em 2017 apenas 6,6 milhões de turistas estrangeiros, um número acanhado para as nossas dimensões continentais. E desses 6 milhões apenas 59% vieram a passeio, ou seja, menos de 4 milhões. E pelo jeito os dois eventos internacionais caríssimos que a gente sediou em 2014 e 2016 não melhoraram muito nossa situação. Como comparação, a França recebe em média 90 milhões de turistas estrangeiros, os EUA 75, o México 40 e a Argentina 10 milhões de turistas, quase o dobro do Brasil.
O que faz então com que a gente não transforme potencial em realidade?
Esse é um problema multi fatorial, com causas externas e internas.
A causa externa mais relevante é a geográfica. O Brasil está longe dos grandes polos emissores de turistas. Quem são os grandes polos emissões de turistas? São países ricos, com grande população e tradição de viagens internacionais, como por exemplo China, Estados Unidos, Canadá e Alemanha.
Para um americano é muito mais rápido e barato visitar uma praia mexicana, e o México tem praias bacanas também, do que vir ao Brasil. Chineses pior ainda, eles estão do outro lado do planeta Terra.
Essa questão logística é tão relevante que dos 6,6 milhões de turistas que a gente recebeu em 2017, 2,5 milhões vieram de um único vizinho, a Argentina, mesmo com o momento econômico adverso. O segundo país que mais visitou o Brasil foi os Estados Unidos, com cerca de 500 mil, e uma boa parte veio a trabalho e não a lazer.
A pequena ilha de Macau recebeu 17 milhões de turistas, quase três vezes mais que todo o Brasil, mas Macau está grudada na China.
Além de estarmos longe dos principais polos emissores de turistas, nossos vizinhos que poderiam nos visitar com mais facilidade ou são muito pequenos ou então não são tão economicamente desenvolvidos para terem relevância como emissores de turistas, como Uruguai, Bolivia, Paraguai, Peru e Venezuela. O Brasil, para eles, é enorme e um importante polo emissor de turistas, mas raramente o inverso é verdadeiro.
E ainda temos alguns problemas para dificultar a vida do turista estrangeito, como na oferta de voos. Muitas vezes o estrangeiro tem que cruzar todo o Brasil, descer em São Paulo, e depois voar tudo ao contrário para descer em alguma capital do Nordeste ou da Amazônia, tornando a viagem ainda mais cara e cansativa.
Agora, se nessa questão geográfica não há por enquanto muito o que a gente possa fazer, existem também razões internas que complicam nossa situação, como por exemplo:
A infra estrutura de estradas, portos, aeroportos e hotéis.
A limpeza pública deficiente em algumas cidades, que causa uma má impressão no turista.
O baixo índice de brasileiros que falam inglês ou espanhol. Se a gente quer receber estrangeiros a gente precisa ter pessoas aptas a se comunicar com esses estrangeiros, e a língua universal do mundo é o inglês.
E por fim talvez aquele que seja o grande vilão do turismo brasileiro: a imagem de que somos um país violento. Eu tenho certeza que a maioria absoluta dos turistas volta encantada com nossos atrativos, nossa cultura, nosso povo hospitaleiro e nossa contagiante alegria de viver. Mas volta e meia acontecem alguns episódios de violência selvagem contra estrangeiros e isso vira manchete internacional. Violência e crimes existem em todo lugar do mundo. As capitais europeias, por exemplo, estão cheias de batedores de carteira, mas no Brasil a insegurança tem uma faceta selvagem, é assalto à mão armada, bala perdida, estupro, agressão, horror, tudo o que um turista jamais vai querer enfrentar numa viagem de férias, não importa o percentual do risco. Um país só será bom para o turista se antes ele for bom para os seus cidadãos.
O Brasil é um país enorme no tamanho, o quinto maior do mundo, gigante na quantidade de atrativos e na alegria do seu povo, mas ainda pequeno na indústria do turismo, que pode gerar divisas, empregos e desenvolvimento para o país. Mas a gente precisa fazer a nossa lição de casa, para que esse país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza seja não apenas bonito no cartão postal, mas também fonte de riqueza,orgulho e desenvolvimento para as pessoas.
Alexandre Correa é professor da FGV, escritor e palestrante corporativo. Ele está no YouTube, no Facebook, no Linkedin, no Instagram, no SPC e no Serasa. E não está no Tinder porque sua mulher não deixa.