Lendo o livro “O Terceiro Chimpanzé” do biólogo americano Jared Diamond, fiquei impressionado com uma surpreendente estatística revelada pelo Projeto Genoma: cerca de 99% do DNA humano é rigorosamente igual ao de um chimpanzé. Ou seja, do ponto de vista genético, somos 99% similares aos nossos primos das florestas, o que talvez explique o comportamento peculiar de alguns parentes, vizinhos, colegas de trabalho e torcedores de futebol mais exaltados.
É mesmo intrigante notar que, a despeito de tão brutal semelhança genética, os humanos pilotem aviões, façam viagens espaciais, componham jazz e estudem física quântica, enquanto nossos primos símios se balançam em árvores e comem cascas de raiz.
Por outro lado, para não ser parcial na análise, é preciso admitir que até onde sabemos, os chimpanzés também não desviam verba pública, não param o carro em fila dupla nem cometem atos terroristas contra seus pares.
Mas o que explica que uma diferença de origem tão pequena resulte em diferenças tão gigantescas no resultado?
A primeira explicação pode ser o efeito acumulado do pouco projetado no longo prazo. Num percurso pequeno, uma alteração de 1 centímetro não o desvia tanto do destino. Mas em longas distâncias, mesmo um minúsculo desvio de rota o leva a lugares muito distantes do destino inicial.
Mas o fundamental é a natureza das diferenças, certamente.
O fato é que passei a olhar com maior rigor essas pequenas diferenças que produzem grandes resultados. Recorri ao oráculo Google e pesquisei algumas estatísticas do primeiro GP de Fórmula 1 de 2013, realizado na Austrália. Peguei 2 companheiros de equipe para comparar a performance. Alonso ficou em segundo lugar, com um tempo de 1 hora, 30 minutos e 15 segundos, e Felipe Massa em quarto, chegando meros 21 segundos depois. Traduzindo em miúdos, Massa foi apenas 0,38% mais lento que seu companheiro de equipe. Entretanto, o salário de Alonso é 233% maior do que o do brasileiro. 0,38% mais lento e 14 milhões de euros mais pobre (ou menos rico, para ser mais exato). Poderia repetir a experiência ad infinitum, em outras atividades esportivas, sociais ou econômicas, com conclusões parecidas.
A mesma tese serve para explicar derivações inversas, profundamente negativas. Parece ser o caso das recentes manifestações realizadas no Brasil. 99% de pessoas pacíficas, protestando justamente (e até um pouco tardiamente, convenhamos) contra uma série de problemas que nos impedem de ser um país melhor, ou mais próximo do que queremos e merecemos.
Mas existe o famigerado 1% de vândalos, seres infelizes que devotam a existência para estragar a festa alheia, fazendo da estupidez símbolo maior do seu caráter duvidoso. Dilapidando o patrimônio público para supostamente protestar contra aqueles que o fazem na vida pública. Alimentando-se do caos e da violência para que o silêncio não os permita ouvir a ensurdecedora obtusidade de si mesmos.
O que me faz crer que em certos aspectos, apesar de todo o progresso, uma parcela pequena da humanidade ainda continua muito mais atrasada que a maioria dos chimpanzés.