Ele amava todas as mulheres do mundo.
Todas as mulheres do mundo.
Amava as louras, negras, ruivas, índias, morenas, asiáticas e eslavas. Amava as lindas e as feias também. As baixas, altas, magras, gordas, curvilíneas e disformes.
Amava as mulheres como uma criança que sorve faminta o leite do mundo.
Amava Lolitas, Anitas e Evitas. Amava a inocência das jovens e a sabedoria das idosas. Amava o frescor e as rugas com a mesma avidez e fúria.
Amava todas as mulheres do mundo.
Amava pés, mãos, coxas, bocas, carnes, alma, mente, peles, pêlos, nucas, cotovelos e unhas. Amava cada centímetro como um explorador que descobre encantado tesouros escondidos. Amava o que protuberava sob as vestes e o que queimava na epiderme.
Amava as santas de corpo imaculado e as loucas de alma depravada.
Amava todas as mulheres do mundo.
Amava as determinadas de idéias firmes e as volúveis de joelhos trêmulos. Amava as amargas e as mal amadas. Amava as direitas e mais ainda as tortas. Deitava sob as tábuas com a mesma felicidade com que dedilhava em êxtase os mais perfeitos violões.
Amava a raridade ferruginosa das ruivas, a personalidade das peles de ébano e o brilho dourado das penugens polacas.
Amava todas as mulheres do mundo.
Amava as bruacas e putas com a mesma reverência com que amava as castas e puras. Bruxas, fadas ou ninfas, eram todas deusas para o qual ajoelhava em reverente adoração.
Amava o banquete que se fez da costela. Amava as mulheres de seios fartos que alimentam com sua generosidade a fome do mundo. Mas amava a todas as outras também, porque toda mulher entrega um pouco de si para fazer o mundo melhor.
Ventre, vulva, lábios e nuca eram apenas cálices com os quais saciava a sede que tinha do amor das mulheres.
Amava todas as mulheres do mundo.
Porque as mulheres para ele eram a origem e o destino final. Eram o ventre e o umbigo do mundo, expressão maior do que de melhor no mundo havia.
Ele era o homem que amava todas as mulheres do mundo, porque sabia que sem elas não haveria mundo, nem tampouco poesia.
Amava todas as mulheres do mundo.
Amém.