Confesso que simpatizei com os protestos que eclodiram em todo o país no meio do ano passado. Apesar da pauta fragmentada, da falta de articulação e das franjas minoritárias mais interessadas em vandalismo do que em solução, era um movimento de ruptura e de retomada do protagonismo que a população deve ter na discussão dos seus problemas. O Brasil sempre foi um país muito passivo e já tinha mesmo passado da hora de levantar do berço esplêndido.
Agora vem ganhando espaço, nas ruas e na mídia, o movimento “Não vai ter Copa”. Nesta semana, reuniram cerca de 2000 pessoas para protestar nas ruas de São Paulo. Não vou perder tempo escrevendo sobre os desvios de rota que eventualmente esses eventos acabam tomando, descambando para a violência irrefletida. Prefiro analisar o mérito da pauta.
Eu particularmente não simpatizo com a FIFA e fui contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. É um evento que proporciona algumas vantagens, como visibilidade para o país, divulgação dos atrativos turísticos nacionais e pode deixar um legado em obras de infraestrutura urbana, caso o país leve a sério o planejamento e as boas práticas de gestão, o que desconfio não seja o nosso caso.
Mas sempre me pareceu que os custos suplantariam os benefícios, principalmente em um país ainda tão carente em quase tudo. E a conta não para de subir. Já se fala num gasto de realização de 30 bilhões, quase todo bancado com dinheiro público.
Alguns casos são emblemáticos, como gastar quase 1 bilhão de reais reformando estádios em regiões sem nenhuma representatividade futebolística (como Rio Grande do Norte e Amazonas) e que assim não terão como diluir esse investimento bilionário ao longo dos anos, tendo ainda que arcar com um custo de manutenção inevitavelmente alto. Fosse para divulgar o turismo desses belos Estados, o governo faria melhor investindo em infraestrutura, Educação e divulgação.
Só que agora o estrago está feito. Manifestar indignação com a Copa é legítimo, mas o pior dos mundos seria não ter Copa. Os gastos já foram feitos, o dinheiro público já foi comprometido e o mundo inteiro espera pelo evento. O melhor agora é que a Copa aconteça, e da melhor maneira possível.
O episódio só escancara o nosso exercício capenga da cidadania. O Brasil divulgou sua disposição de ser sede em 2003 e foi escolhido em 2007. Se era pra protestar, o momento certo seria lá atrás, quando o governo anunciou a candidatura. Ou mesmo logo após a escolha, para que a farra estatal fosse menor. Mas vasculhe todos os jornais e só encontrará manifestações de alegria e patriotada com o novo milagre brasileiro. Povo nas ruas? Festejando, claro.
Preferia que a Copa fosse feita num país rico (até mesmo porque pobre não vai conseguir ingresso pra Copa mesmo) e que a gente usasse esses bilhões para as nossas verdadeiras prioridades. Acho também esses protestos contra a Copa uma belezinha. Pena que com uma década de atraso.
Pro bem (ou pro mal menor) de todos, é melhor que tenha Copa. E que o Brasil não passe vergonha, dentro ou fora dos gramados.