Foi em 1999 que a italiana Cláudia visitou Los Roques pela primeira vez, com seu então namorado Andrea. Era para ser apenas uma viagem de férias, mas eles resolveram ficar para sempre. E assim o fizeram dezenas de outros italianos que hoje comandam a maior parte das rústicas pousadas desse paradisíaco arquipélago, localizado a menos de 170km da Costa de Caracas na Venezuela, dando seqüência a um movimento iniciado pelo conterrâneo Vincenzo Conticello, que inaugurou em 1991 a primeira pousada italiana do arquipélago, repercutindo desde então os encantos do local junto à mídia de seu país. Á época, Los Roques era praticamente desconhecida do resto do mundo.
Formado por 42 ilhas e centenas de bancos de areia e arrecifes, o arquipélago de Los Roques, primitivamente batizado de “El Roque”, foi declarado Parque Nacional em agosto de 1972, e vem aos poucos ganhando fama e projeção internacional, sobretudo entre os descolados jovens europeus e casais em lua de mel.
A ilha principal, Gran Roque, com suas casinhas coloridas, ruas de areia e uma população estimada de 1.200 habitantes, é onde estão localizadas a quase totalidade das pousadas, comércio e o aeroporto, principal meio de acesso à ilha, caso você não seja um magnata detentor do próprio iate.
Ao contrário de outros arquipélagos famosos e paradisíacos, como a Polinésia Francesa ou o Havaí, caprichosamente plantados no meio do “nada”, Los Roques se encontra a apenas 30 minutos de vôo do aeroporto de Caracas, o que o torna um destino altamente atrativo e viável para os brasileiros, que podem voar até Caracas utilizando seu plano de milhagem.
Não espere encontrar luxo nas pousadas de Los Roques, mas as antigas casas de pescadores hoje já contam com mimos impensáveis até alguns anos atrás, tais como ar condicionado split, TV a cabo, banho quente (dispensável, diga-se de passagem), e internet sem fio (com velocidade de discada). Os preços são elevados. Paga-se em média US$150 por pessoa, por noite. Entretanto, a grande maioria das pousadas oferece o serviço de pensão completa: café, almoço, jantar, bebidas durante as refeições, lanches, passeios até as ilhas mais próximas (Franciski e Madriski), e um “kit de sobrevivência no paraíso”, composto de guarda-sol, toalhas, cadeiras, e um frigobar contendo bebidas e petiscos, indispensável em ilhas remotas, nas quais muitas vezes só existe você, a areia, o mar azul transparente e meia dúzia de turistas sortudos, se muito.
A rotina é idêntica em quase todas as pousadas. Acordar, tomar café entre 07:30 e 09:00, pegar a lancha para ir a alguma ilha do arquipélago, onde funcionários da pousada fincam na areia seu guarda-sol e te deixam à própria sorte (e que sorte!) em praias de cair o queixo, com um kit contendo cervejas, refrigerantes, snacks, saladas frias e sanduíche de atum. No final da tarde o barqueiro retorna e te leva à pousada, onde normalmente te esperam sucos e aperitivos, antecipando o jantar das 20:00, servido na companhia de visitantes do mundo todo, sobretudo europeus. Peixes frescos, frutos do mar, e primorosas pastas, não raro preparadas pelos próprios donos das pousadas são cenas comuns em Los Roques. Dorme-se cedo, porque em geral não há muito o que fazer na ilha em termos de vida noturna. Há um pequeno clube, o Poseidon, onde aos finais de semana os locais (e uns poucos turistas) se reúnem para curtir música eletrônica de qualidade duvidosa, e não muito mais que isso. Com a fraca vida noturna, e a quase total ausência de lojas, sobra mais tempo para se dedicar ao que Los Roques tem de melhor: suas ilhas e praias paradisíacas.
As ilhas mais próximas são Franciski e Madriski, estão incluídas nos pacotes das pousadas, às vezes incomodam pelos mosquitos e ficam a pouco mais de 5 minutos de lancha de Gran Roque. Mas num arquipélago com dezenas de ilhas, não caia na tentação de ficar só nessas 2 ilhas, apesar de serem (realmente) muito bonitas. Aventure-se. Há um mundo a descobrir. Embora todas elas tenham um DNA comum (areia fina e branca, águas cálidas e transparentes, vegetação rasteira), todas têm personalidade própria e guardam seus tesouros e encantos individuais. Em Craski, além de poder saborear uma deliciosa lagosta fresca, você pode se banhar em águas azul turquesa, rodeado de iates por todos os lados. Em Dos Mosquises Sul existe se encontram as instalações da “Fundación Cientifica Los Roques”, onde funciona um centro de proteção de tartarugas marinhas, e dotada de uma visão privilegiada da ilha vizinha, Dos Mosquises Norte, deserta e com seus idílicos e solitários coqueiros. A ilha mais distante de Los Roques, a pouco mais de 1 hora de lancha, é por muitos considerada a mais bela de todas: Cayo de Água, com um estreito banco de areia separando as 2 metades da ilha, proporcionando uma formação única e espetacular, como se fosse uma passarela de areia a separar 2 praias de águas transparentes. Um visual único e inesquecível. Cayo Muerto é um pequeno banco de areia no meio do mar, a materialização da famosa “praia deserta”. Só não traga muita gente, porque não vai caber. Essa ilha pode lhe render as melhores fotos da sua vida, de dar úlcera naquela sua amiga invejosa do escritório.
Nem todas as iilhas, entretanto, são abertas ao público, várias delas estão sob zona de proteção integral, e algumas só podem ser desfrutadas por mergulhadores. Aliás, Los Roques é um paraíso para mergulhadores, com uma rica e diversificada vida marinha, composta de tartarugas, lagostas, arraias, esponjas, corais e peixes coloridos.
Quando finalmente você cansar da estressante rotina de mergulhar, nadar em praias transparentes, ler, cochilar, fazer nada e saborear lagostas frescas, aprecie o pôr-do-sol e o balé aéreo dos pelicanos de Gran Roque, ou faça uma caminhada até o morro do farol, de onde se tem uma vista do vilarejo e das ilhas mais próximas.
Só não cometa a besteira de comprar um “bate-e-volta” de um dia, esses passeios opcionais que se vendem a partir de Caracas ou Isla Margarita. Você não vai economizar, vai fazer tudo às pressas e não vai conhecer nada. Reserve de 3 a 5 dias para ter uma idéia geral das principais ilhas, ou mais tempo, se gostar de mergulho. Nunca é demais lembrar que tem muita gente que decidiu largar tudo e morar para o resto da vida em Los Roques, como a italiana Cláudia do início da reportagem, que se mudou, casou e até já separou, mas continua sócia do ex-marido, numa prova de que o amor por Los Roques pode ser mais duradouro do que a mais arrebatadora das paixões.
HOSPEDAGEM
Los Roques possui uma hotelaria rústica e cara, mas pesquisando você pode conseguir a que melhor se encaixa no seu orçamento. Um problema comum é que muitas delas exigem o pagamento de um sinal de 30%, depositados em bancos da Itália ou Estados Unidos (artifício para fugir da taxa de câmbio que valoriza artificialmente a moeda venezuelana). Cartões de crédito raramente são aceitos pelas pousadas. Você pode entretanto tentar convencer a pousada de receber tudo no check-in, ou então fazer a reserva por meio de agência ou operadora de turismo, ainda que isso possa lhe custar um pouco mais.
GASTRONOMIA
A maioria das pousadas de Los Roques opera no sistema de pensão completa, o que acaba inibindo o aparecimento de restaurantes na ilha. Mesmo assim, já existem opções, como o restaurante Canto de la Balena e “Acuarela” da pousada homônima. Na maior parte das pousadas, entretanto, o jantar costuma ser honesto e de qualidade, massas e peixes frescos preparados a moda mediterrânea ou local.
PASSEIOS
Os passeios de lancha às ilhas do arquipélago são o grande hit de Los Roques. Aventure-se cada dia em uma ilha e deixe-se seduzir. Na ilha principal (Gran Roque), não mais do que 10 minutos (se você estiver com uma preguiça danada de andar) bastam para você percorrer todas suas ruas de terra. Se estiver com disposição, pode fazer uma caminhada até o farol local. O percurso ida e volta leva algo como 45 minutos, e garante boas fotos, tanto da vila quanto dos rochedos sob o mar. De manhã venta mais e o risco de mosquitos é menor, e à tarde vale pelo pôr do sol.
AGITOS
Não há muito o que se fazer em termos de vida noturna na ilha. Apenas uma pequena casa noturna agita os locais e os turistas mais empolgados. Ocasionalmente, alguns turistas improvisam festas entre amigos nas pousadas, embaladas por muito vinho e rum. Se quiser agito de verdade, vá para Isla Margarita, ou Cancun.
COMPRAS
Não há lojas ou shoppings em Los Roques (será por isso que quase não se vê norte-americanos por essas bandas?). Você já pagou um dinheiro razoável para chegar até aqui. Gaste seu dinheiro com passeios de lancha, lagostas, e muito filtro solar. Caso viagem para você tenha sempre que rimar com compra, use o free-shop do aeroporto de Caracas, ou vá para Miami.
DINHEIRO
É praticamente impossível achar em Los Roques um estabelecimento que aceite cartão de crédito ou onde se saque dinheiro, portanto leve dinheiro em espécie. No regime local, o câmbio é uma verdadeira salsa do bolivariano doido. Tente trocar já no aeroporto de Caracas, de preferência em algum estabelecimento que lhe pareça minimamente confiável.
QUANDO IR
O clima é bastante estável no arquipélago. Estima-se que haja menos de 15 dias de chuvas por ano. O mês com maior precipitação é novembro, mesmo assim costuma garantir grandes períodos ensolarados.
Novembro de 2008 foi atípico, tendo 8 dias seguidos de chuvas, uma absoluta anomalia para os padrões climáticos locais.
>>> Texto produzido em dezembro de 2008. Algumas informações, preços, dicas e cotações, podem estar defasadas. Mas com certeza, o arquipélago continua lindo…