Quando criança eu sonhava em ser astronauta, algo bastante apropriado para alguém meio avoado e que vivia no mundo da lua.
Deve ser por isso que sempre gostei de olhar estrelas, o que me rende comportamentos bastante inusitados, como passear à noite em praias desertas apenas para poder ver o céu em toda sua inteireza, protegido das luzes artificiais do mundo aqui embaixo. Está de fato cada dia mais difícil olhar pra cima e ver um céu coalhado de estrelas. Talvez porque agora só olhemos para baixo, para a tela iluminada do celular. Sempre gostei mais de caçar constelações do que Pokemons, mas sou um lunático incorrigível.
Digo isso porque fiquei comovido com a notícia de que o pequeno povoado de Surrein, encrustrado nas montanhas geladas da Suíça, fez um plebiscito para decidir se o vilarejo deveria instalar a iluminação pública (como no resto da rica Suíça) ou preservar o direito dos cidadãos caminharem debaixo da imponente Via Láctea, todas as noites.
Fora o quarto plebiscito sobre o mesmo tema, 1970, 1997, 2000 e agora. Nos outros três as estrelas venceram os postes, mais pelo peso no bolso no que pelo colirio nos olhos.
Mas agora a modernidade venceu, de maneira inapelável, e a pequena cidade ao pé dos Alpes Suíços, de apenas 250 habitantes, terá direito a um sistema de iluminação moderno e eficiente, que se acende ao escurecer e a partir das 10 da noite reduz a luminosidade, só aumentando caso detecte a presença de algum pedestre nas cercanias.
Tá certo. Romantismo é bom, mas modernidade e conforto são melhores ainda. Pra quem não vive com a cabeça nas nuvens, melhor iluminar o chão onde se pisa.
Mas se fosse num lugar seguro como a Suíça, eu ainda votaria pela luz das estrelas.