Ao longo dos últimos 60 anos a expectativa de vida do brasileiro dobrou. Saiu de menos de 40 anos de idade para quase 75 atualmente.
Mas números e médias nem sempre contam a história toda. Quem apenas olha a média acaba morrendo afogado ao atravessar um rio com profundidade média de 1 metro.
Recentemente um estudo divulgou dados da maior metrópole do país, São Paulo. É possível perceber que a cidade, mesmo com seu gigantismo, acaba sendo uma macro amostra do Brasil desigual que as pesquisas mais recentes acabaram por desnudar.
Enquanto alguns bairros têm expectativa de vida comparável à Dinamarca, como o Jardim Paulista, com quase 80 anos, outros, como o Jardim Ângela, possuem expectativa de vida de apenas 55,7 anos, comparável à da Nigéria.
Ou seja, para um típico morador dessa região pobre de São Paulo a vida acaba 24 anos antes. E com muita frequência, acaba de um jeito bastante violento, já que o bairro possui uma taxa elevada de homicídio juvenil.
São Paulo é a cidade mais rica do país. Mas essa riqueza, como tudo no Brasil é muito relativa. Como atravessar um longo rio de profundidade média de um metro. Em algum momento você pode morrer afogado.
É São Paulo. Mas é também Belém, Nova Iguaçu e Salvador. Um retrato dos muitos brasis que vivem (e morrem) dentro do mesmo país.
O acesso a serviços básicos, educação, cultura e segurança, assim como o dinheiro, são bens assimetricamente distribuídos pela sociedade.
Nos últimos anos conquistamos formidáveis avanços na expectativa de vida no Brasil e no mundo. Mas ainda falta universalizar essas conquistas.
Nos anos 1970 um economista cunhou o termo Belíndia para se referir a um Brasil economicamente desigual: uma pequena Bélgica, pequena, rica e próspera, cercada de uma imensa Índia, desigual e miserável. Evoluímos um bocado, há que se admitir, ainda que a nossa porção Índia ainda seja vergonhosamente maior do que nossas pequenas Bélgicas incrustradas aqui e ali.
Estamos vivendo cada vez mais e isso é algo a se comemorar. Agora falta lutar para acabar com as nossas muitas Dinérias, onde a vida das pessoas acaba 24 anos mais cedo.
Só não acaba a nossa esperança, porque essa é a última que morre.