Você sabe por que é sempre tão difícil cumprir as promessas de ano novo? Então este texto é para você!
Já no finalzinho de dezembro você sente uma estranha força te empurrando pra frente. Novos projetos, novos desafios, novas conquistas. Verdade seja dita, velhos projetos e velhos desafios, agora vestidos de branco, com cara de novos.
O primeiro dia do ano surge imponente no horizonte: aberto, convidativo, ensolarado e você sente que pode tudo, você é um super herói.
Mesmo com uma dose de etanol além da recomendável circulando nas veias, você mantém a firmeza de propósitos: arrisca uma caminhada mesmo sob um sol de fritar os miolos.
Desembrulha aquele livro que ganhou no amigo invisível quatro anos atrás, lê a introdução e promete que neste ano vai ler mais, muito mais, o que não será tarefa difícil, já que não leu absolutamente nada no ano que se foi.
Também jura que cuidará mais da carcaça maltratada que carrega nossa alma involuída: até arrisca uns abdominais no chão do banheiro.
Mas tamanha energia assemelha aos círculos que a lagoa gera no mergulho de uma pedra: cada vez mais fracos e distantes do foco original.
O teste de fogo é a primeira segunda feira do ano. O ímpeto diminui e é quase impossível expulsar da cabeça aquele pensamento traiçoeiro:
“Ah, o ano está apenas começando, ainda há muitos dias para tirar o atraso e cumprir as promessas do ano novo, é só hoje, amanhã eu retomo o ritmo das coisas…”.
É a primeira semente do pé de vendaval: logo você estará procrastinando metas para a próxima segunda, para o sábado (de aleluia), para depois do carnaval, para o próximo mês… E quando se dá conta, nos escombros de outubro, o ano seguinte começa a lhe acenar maroto, como um amigo sumido que te conhece melhor do que ninguém e você finge que aquele sorriso de escárnio não é com você.
Mas logo dezembro chega de novo, e você acredita, com razão, que tudo pode ser diferente, a despeito das evidências constrangedoras do seu passado recente.
Mas por que a gente procrastina as metas? Por que é tão difícil mudar?
Alguns evolucionistas dizem que isso é fruto de uma tendência ancestral de poupar energia que nos move a ficar imóveis, mesmo com tanta disposição inicial de cumprir as novas velhas metas.
Na época das cavernas nossa única preocupação era com o aqui e agora, e não com o futuro. O que valia era a satisfação imediata, e poupar energia.
Psicólogos dizem que estamos em eterno conflito entre o nosso eu cognitivo (aquele que deseja aprender inglês, emagrecer, comer mais espinafre, ler livros e levar uma vida mais saudável) e aquele ser das cavernas que habita um espaço insondável lá pelos rincões basais do prosencéfalo: as forças inconscientes que impactam na maior parte das decisões que tomamos.
Mas o ser humano não é escravo de sua biologia ou de seus instintos, como os outros animais. Estudos provam que é possível sim mudar. E mudar a longo prazo, mas para isso você precisa agir, e fazer disso um hábito, goste ou não goste. A maioria das crianças não gosta de acordar e escovar os dentes, mas depois que isso virá um hábito, a gente faz isso para o resto da vida, e nem se dá conta.
Não existe receita mágica, mas você não pode se deixar dominar pelo Capitão Caverna que habita nossa mente e fazer o que precisa ser feito, mesmo que você ache a tarefa um porre.
Eu vou te dar algumas dicas que podem te ajudar a superar esse desafio:
1) Se afaste das distrações. Desligue o celular, a TV e o computador. Coloque um cadeado e um pit bull tomando conta da geladeira. Como normalmente as coisas que a gente precisa fazer envolvem algumas tarefas chatas, a tendência é que a gente fique buscando distrações inúteis e mais divertidas, como naufragar na internet, por exemplo.
2) Fragmente a sua meta em etapas. Se a sua meta for um projeto muito grande, você terá que dividir isso em etapas, caso contrário vai ficar com a impressão de que a montanha é alta demais para escalar. Digamos que o seu objetivo seja estudar no exterior. Isso provavelmente é um projeto que demanda muitas coisas, então você tem que dividir esse objetivo em diversas tarefas: escolher o país, verificar as opções de escolas e as exigências, ficar fluente no idioma do país, juntar dinheiro ou se inscrever em alguma bolsa estudantil, guardar dinheiro, etc. Você não vai conseguir realizar tudo duma vez. É preciso fatiar a grande meta em diversas mini metas. Falando em metas, cuidado para não estabelecer metas demais, porque você vai acabar não conseguindo cumprir nenhuma. O ideal é que você tenha de 1 a 3 grandes metas no ano. Isso não quer dizer que você deve abandonar todas as áreas da sua vida, mas grandes metas exigem mais foco e dedicação, e por isso elas devem ser limitadas.
3) Pense na recompensa final. Uma das maiores dificuldades em realizar as grandes metas é que o sacrifício é certo e imediato mas a recompensa ocorre apenas no futuro e com algum nível de incerteza. Por isso é importante que você visualize esse futuro desejado para que consiga motivação para vencer essas dificuldades imediatas. Pense nos benefícios que vai obter quando atingir a meta desejada.
4) Crie micro prêmios para as etapas vencidas. Você não deve se sabotar buscando distração, mas você pode estabelecer pequenas premiações toda vez que você cumprir uma etapa da sua meta. Por exemplo, se você cumprir o seu objetivo estipulado para aquele dia ou aquela semana você pode assistir um filme que deseja muito, comer sua comida predileta ou ouvir a sua banda preferida.
5) Coloque a mão na massa o quanto antes, e não desista. Esse é o mais óbvio, o mais importante e sem dúvida nenhuma o mais difícil. Eu poderia ficar aqui falando um milhão de teorias, mas a única coisa que realmente importa é você levantar da cadeira e fazer o que precisa ser feito. O quanto antes. Fazer hoje, fazer amanhã, fazer depois da manhã, fazer todo dia. Se você está no ponto A e deseja chegar no ponto B o ÚNICO, o ÚNICO jeito de chegar lá é todo dia caminhar na direção do ponto B. Se você parar no caminho o ponto B não irá até você. Vou repetir, você precisa fazer, fazer, fazer, e muitas vezes fazer o que você não está a fim de fazer. E não arrume desculpas para não fazer. Avance todo dia, mesmo em que alguns dias avance pouco. Se sua meta é fazer atividade física, faça se o dia estiver bonito ou feio, se o seu time ganhou ou perdeu, e se você está com sono ou não, se está triste ou está alegre. É como escovar os dentes, tem que fazer e ponto final. Sem mimimi. Faça, faça, faça.
Não, não é fácil, mas é sempre possível vencer a si mesmo, romper com velhos hábitos, sair da letargia e (aleluia!) riscar da lista de pendências aquelas metas que você vem rescrevendo há vários réveillons.
E nem precisa ser primeiro de janeiro (em várias outras culturas o primeiro dia do ano é comemorado em outra data do calendário). O primeiro de janeiro pode ser todo dia ou pode ser nunca. A decisão é sempre sua.
Mãos à obra e feliz vida nova!