O ser humano é uma das espécies animais mais longevas que existem. Vivemos 75 anos em média, os japoneses quase 85. Uma mosca comum vive menos de um mês, isso quando não mergulha numa sopa fervente após alguma manobra aérea mal executada.
Talvez por esse generoso estoque em vida, criamos uma percepção um tanto turva da passagem do tempo, nutrindo a ilusão de que sempre teremos tempo para tudo, para consertar todas as besteiras, fazer o que não foi feito quando deveria ser feito, desdizer o que não deveria ter sido dito, falar um tardio eu te amo antes que as pálpebras engelhadas tenham o seu derradeiro cerrar ou para resolver ser feliz antes que seja tarde demais.
É por essa impressão imprecisa a respeito do tempo que costumamos deixar muitas coisas pelo caminho, esperando um momento ideal que quase invariavelmente não chegará. Teimamos em achar que temos controle sobre o tempo. Não temos, nem jamais teremos. O tempo é cruel em sua marcha lenta e irrevogável.
Há pessoas que vivem se poupando, vivendo a vida pela metade, aguardando o dia em que poderão ser elas mesmas. Pessoas que não se entregam nem se permitem ser quem são. Ensaios de si mesmas interpretando um papel que não lhes cabe. Simulacros de vida, fragmentos de gente, seres atormentados pela sina incumprida.
Como num filme do Stallone dos anos 80. Levando pancada, resignadas, na vã esperança de que o final do filme reserve-lhes alguns minutos de triunfo. Mas o destino não imita a arte.
A vida corre rápida em seu curso lento e nem sempre conseguimos fazer amanhã o que deveria ter sido feito ontem. O tempo é um agiota que cobra um preço alto demais pelas faturas que não pagamos no momento certo. Frustração é muitas vezes apenas o produto elaborado da omissão envelhecida em tonéis de carvalho.
Ah, quando eu sair de casa… quando eu me formar… quando eu casar… quando me separar… quando mudar de emprego… quando me aposentar…
Faça agora o que precisa ser feito agora. Não se poupe para um segundo tempo que talvez não chegue, ou quando for tarde demais para virar um placar adverso. Entre em campo, corra, pule, caia, levante, ganhe ou perca, mas saia do banco de reservas.
Tome as rédeas da sua vida, ainda não inventaram melhor condutor para o seu destino do que você mesmo. Circunstâncias externas não trarão a alegria ou o conforto que você não carrega dentro do peito.
Ame quem você tiver que amar, sonhe o que tiver que sonhar, arrisque quando puder arriscar, voe quando tiver que voar. Encare a vida de frente, tenha a coragem de ser você mesmo. Mande à merda quem tenta encaixotá-lo num modelo em que você não cabe. Só você sabe o que se passa aí dentro. Não existe felicidade por delegação.
Não se poupe, se entregue. Seja demasiado, mas não seja metade. Quem poupa vida não acumula, atrofia.
Vai, se jogue. Transponha o abismo dos seus medos. Saia do ovo, do casulo, do muro, do armário, da sombra, da redoma, da cama. Enfrente ou saia da frente. Só canta de galo quem um dia quebrou a casca e saiu do ovo. Anular-se é a maior violência que você pode praticar contra si mesmo.
Porque quando o futuro chegar, talvez seja tarde demais para consertar o passado, e sua vida é um bem precioso demais para deixar atrofiar. Não se esqueça que todo dia a mais é um dia a menos.
Nunca é tarde demais para tentar, mas quando se trata de ser feliz e assumir a própria vida, jamais haverá hora melhor do que agora.