Ele vestiu seu casaco cinza para se proteger da chuva.
Ela se vestiu de arco íris para se conectar aos céus.
Ele insistiu na rota meticulosamente planejada, mas ela queria se perder por novos caminhos.
Porque ele tinha pressa e ela tinha fome.
Ele chovia, ela fazia sol. Ele trovejava. Ela solfejava.
Ele tinha medo do precipício. Ela amava o sopro de infinito que vinha das profundezas das montanhas.
Ele afundava os pés na terra. Ela esticava o nariz pra sentir o cheiro das nuvens.
Ele gritava palavras de ordem que lhe davam a sensação de segurança, mas só recebia de volta o eco pálido de sua própria angústia.
Ela inventava canções em línguas que não conhecia, enquanto os bem-te-vis lhe faziam companhia.
Ele corria desesperado e não saía do lugar. Ela levitava em dimensões ainda não inventadas.
Ela multiplicava, ele diminuía.
Eles seguiam o mesmo trilho, mas chegavam noutras estações.
Vagando entre o delírio e o martírio, eram o avesso de si mesmos deixando pra trás apenas o rastro fugaz de suas jornadas.
Fieis aos seus destinos, suas sinas, suas leis e à saga que move cada um de nós rumo ao desconhecido.