– Pai, por que o ônibus da Pássaro Marron é vermelho?
– Porque o dono do ônibus não gosta de marrom.
– Então por que ele não pôs o nome de Pássaro Vermelho?
– Porque não existe pássaro vermelho.
– Existe sim que eu já vi num desenho do Mickey. Por que o ônibus da Pássaro Marrom é vermelho?
– Vai almoçar que sua mãe tá chamando.
Tem apenas 3 anos, mas já faz perguntas que nem o Google sabe responder.
Criar crianças não é fácil, e às vezes me sinto no jardim da infância da paternidade. Você pode decifrar uma equação matemática complexa, projetar um arranha céu de 100 andares ou convencer um comitê de chineses a comprar setecentos contêineres do seu produto, mas quando se trata de lidar com crianças, não há manual, norma ISO ou faculdade que dê jeito.
Dia desses voltou da escola dizendo que uma amiguinha bateu nele. O que?!? Meu filho apanhando de uma pirralha de 92 centímetros?
O primeiro ímpeto (não realizado, claro) foi instruí-lo a socar a cara daquela monstruosa troglodita mirim de quase três anos de idade. Minha mulher chegou a pesquisar cursos de ultimate fight para crianças.
Mas logo nos acalmamos. Percebemos uma excelente oportunidade para educá-lo, ensinando a resolver os primeiros conflitos (dos muitos que inevitavelmente enfrentará pela vida) sem ter que recorrer à violência. Mas nem sempre é fácil colocar o cérebro à frente do fígado.
Criar crianças é uma arte tão prazerosa quanto difícil.
– Pai, por que o ônibus da Pássaro Marron é vermelho?
Andava obcecado com a indecifrável pergunta.
Resolvi usar toda minha experiência adquirida em faculdade, pós, MBA e seminários de técnicas de vendas e persuasão (além de um curso online de hipnose) para engambelar o menino.
– É porque o marrom é uma variante cromática oriunda da família do vermelho.
(Ahá, sai dessa agora, filhote intelectual de Backyardigans com Patati Patatá)
– Não é não pai. Cor não é gente pra ter família. Fala a verdade logo, por que o ônibus da Pássaro Marron é vermelho?
É quando entra na sala a vó do menino (sim, a sogra) e resolve o enigma:
– É porque desbotou Cássio. Era marrom, mas pegou muito sol e virou vermelho.
– Ah tá, entendi…
Carcomido por um ódio corrosivo dentro de minhas mais profundas entranhas, lamentei não ter pensado nisso antes. Tudo bem, meu caçula está com quatro meses, e se por alguma razão cósmica ficar obcecado com a mesma pergunta, já terei a resposta.
Não tardou a surgir com nova dúvida:
– Pai, da onde vem os bebês?
– Vêm das cegonhas.
– O que são cegonhas?
– São pássaros, filhos.
– Pássaros marrons ou vermelhos?
– Nenhum dos dois, cegonhas são brancas como pombinhas, filho.
– Se eu vim dos pombos, por que eu pareço com a minha mãe?
– Cegonhas não são pombos e você se parece com o seu pai.
(Três redentores minutos montando castelos de Lego)
– Pai, dinossauros existem?
– Não existem mais não.
– Acabaram todos?
– Olha filho, eu desconfio que ainda existam alguns entre nós, mas é melhor perguntar para sua vó que entende muito mais de dinossauros do que eu.