Em algum lugar deste planeta azul, cujo nome não posso me lembrar, vivia uma mulher romântica, de vestidos rendados brancos e negros cabelos retos, que gostava de gostar de homens de caminhos tortos, e que amava demais. Amava tanto que a cada amor que vivia, doava um pedaço de si para seu par imperfeito.
Por um, deu a mão. Pelo outro, descabelou. Ao antepenúltimo, os olhos da cara.Ao mais faminto, os seios. Ao mais medroso, as tripas. Ao mais indiferente, o coração. E a cada amor que vivia, era um pouco de si que morria.
Entregava-se tão cega, verdadeira e profundamente, que sequer sofria. Doava-se aos poucos, toda, e nunca era o suficiente.
Estranha e autofágica vocação, que para ser a si mesma, exigia que deixasse de sê-la. Construía seu destino se autodestruindo, a realização através da anulação. Pétalas despedaçadas de bem me quer jogadas na fogueira estrepitante de amores infecundos.
E foi assim, doando um pouco de si a cada relacionamento, que ao final não era mais ninguém, um imenso nada vagando poética e pateticamente pelo mundo, fiel a seu destino. Desatino.
Sobrara apenas a tatuagem de borboleta, que desprendida do corpo que a aprisionava, podia enfim voar em liberdade.