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Vidas interrompidas

Rashid tinha acabado de completar 8 anos. Franzino e de profundos olhos negros, adorava jogar futebol. Seu sonho era um dia ser centroavante do Al Karamah.

Latifa era uma menina meiga e estudiosa que sonhava ser bailarina.

Yasser, na plenitude dos seus 9 anos, era um espoleta. Subia em árvore, pulava muro e vivia com o joelho esfolado. Queria ser tudo: corredor, astronauta, cozinheiro de bolo de nozes e piloto de carrinho de rolimã. Também queria cruzar os oceanos num tapete voador. Era o filho preferido de Hassam.

Sarah tinha 7 anos. Era apaixonada por Hatif, seu pequeno cachorrinho de estimação. Dizia que queria trabalhar num zoológico para poder cuidar de animais.

Rashid, Latifa, Yasser e Sarah eram crianças cheias de vida, com um futuro inteiro pela frente, e morreram envenenadas na mesma noite, dormindo, junto com seus sonhos. Sarah morreu abraçada com seu cão de estimação.

Todos tiveram suas vidas interrompidas por um monstruoso ataque com armas químicas na região de Damasco, na Síria. Vítimas da crueldade, da intolerância, do fanatismo e da luta pelo poder de um governo que chacina quem deveria proteger.

Naquela quarta-feira horrenda morreram mais do que Rashids, Latifas ou Sarahs. Morreram mais do que árabes, sírios ou muçulmanos. Morreram centenas de indivíduos da espécie humana de forma cruel e abominável.  Morreu um pouco de mim e de você. Morreu um pouco da humanidade.

Youssef é um menino doce e tímido, tem 11 anos, era irmão de Latifa, e conseguiu escapar da sentença coletiva de morte. Enterrou sua irmã, seu avô e sua mãe. Enterrou também os sonhos e a inocência de uma infância interrompida.

Agora já sabe o que vai ser quando crescer.

Homem bomba.

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