Monteiro Lobato foi uma mente muito criativa. Da sua cachola genial saíram personagens marcantes e inesquecíveis, como a Emília, uma boneca falante, a Cuca, uma jacaroa colorida, o Visconde de Sabugosa, uma espiga de milho intelectual, além de Pedrinho, Narizinho, Tia Anastácia e Dona Benta. E ele ainda povoou suas histórias com personagens do folclore brasileiro, como a mula sem cabeça e o saci pererê.
Na imaginação do Monteiro Lobato boneca de pano era gente, espiga de milho era gente e o pó de pirlimpimpim fazia as pessoas viverem aventuras fantásticas.
Suas obras descreviam universos fantásticos onde coisas incríveis aconteciam e os limites eram ditados apenas pela capacidade quase infinita que ele tinha de imaginar. Suas histórias eram uma prova de que a infância é uma fase especial, e que ela pode ser mágica e fantástica mesmo sendo simples, sem videogame e sem WIFI.
Mas as famosas obras infantis foram apenas metade da sua produção literária. Monteiro Lobato produziu contos, fábulas e livros adultos. Seu personagem adulto mais conhecido foi o Jeca Tatu, presente no romance Urupês. Jeca Tatu causou polêmica, porque ao invés da visão romântica do caipira, mostrava um homem do campo pobre, sem instrução, preguiçoso, abandonado e atrasado. Mais do que um julgamento negativo do caipira da época, Jeca Tatu era uma crítica à situação de atraso e miséria em que o homem do campo se encontrava no Brasil.
Falando em polêmica, a biografia de Monteiro Lobato nunca esteve ausente delas. Ao longo da sua vida ele criticou artistas, como Anita Malfatti, políticos e o governo. Não por acaso chegou a ser preso após criticar a política de petróleo do Governo Federal. Em anos mais recentes, foi criticado pelo teor supostamente racista de algumas de suas publicações.
Mas tem um traço da trajetória do Monteiro Lobato que é muito pouco comentado. Ele foi um empreendedor compulsivo e pioneiro, sobretudo para os padrões do Brasil da época. Apesar de ter feito Direito, por influência do pai, porque ele queria mesmo era estudar Belas Artes, e de ser Promotor de Justiça, ele foi sócio de uma companhia de estradas de ferro, fazendeiro e criou uma das primeiras editoras de livros do Brasil. Monteiro Lobato também foi adido comercial do Brasil nos Estados Unidos e lá se entusiasmou com o poder econômico americano, com as indústrias metalúrgicas e de petróleo, e queria fazer o mesmo no Brasil.
Fundou uma empresa de ferro, mas com a crise de 1929, quebrou.
Passou a defender com entusiasmo a ideia de que o Brasil tinha petróleo e deveria investir na sua exploração. Foi chamado de doido. Criou a Companhia Petróleos do Brasil. Comprou briga com muita gente, desde empresas estrangeiras a políticos poderosos. Acusou o governo de Getúlio Vargas de sabotar a exploração de petróleo no país. Arrumou tanta confusão que acabou preso por três meses.
Sua empresa não vingou, mas o tempo provou que ele estava certo: o Brasil tinha petróleo. Se sua vida empresarial foi um bocado turbulenta, sua vida como escritor nunca deixou de ser bem sucedida nem de ter o reconhecimento devido, em vida e postumamente.
Livros que exploraram a mais poderosa ferramenta que temos: o poder da imaginação, o poder de criar histórias fantásticas e desafiar o impossível.
Termino com uma frase do Monteiro Lobato que resume bem sua trajetória como escritor infantil e sua mente criativa:
“Tudo tem origem nos sonhos. Primeiro sonhamos, depois fazemos.”