Dizem que praia de paulistano é shopping center.
A julgar pela dificuldade de encontrar vaga pra estacionar nos shoppings de São Paulo ou pela luta insana por uma mesa na praça de alimentação, é possível concordar com a frase jocosa.
Cada um se vira como pode e nada na praia que tem. Pra quem mora em Manaus, a praia é o Rio Negro, que mesmo sendo rio é chamado de praia: Praia da Ponta Negra. Pra quem mora em BH, os barzinhos são as melhores praias. Pra Chilenos e Argentinos montanhas nevadas são suas mais badaladas praias. E as poucas praias que possuem têm uma água gelada de doer.
No domingo em que escrevo esta crônica tive a oportunidade de vivenciar uma nova praia dos paulistas: a Avenida Paulista, que há cerca de três anos tem sido fechada para veículos aos domingos e fica aberta apenas para pedestres e ciclistas, das 10 às 18 horas. Já sabia da medida, que achava simpática, mas me surpreendi quando vivenciei o domingo na Paulista.
São três quilômetros de diversão e diversidade, em todos os seus matizes: uma banda de hard rock tocava highway to hell a duas quadras de onde outra banda tocava um pop gospel e não muito distante de onde um trio tocava um legítimo forró nordestino. No abusado vão livre do MASP uma infinidade de tendas vendiam de bijuterias de gosto duvidoso a pratarias classudas.
Artistas de rua, malabaristas, casais de todas as cores, crianças, animais de estimação, ambulantes, ciclistas, turistas, atletas e consumistas de plantão nas muitas lojas que espertamente abriram em pleno domingo.
Além dos já tradicionais restaurantes e bares da Paulista, um monte de barraca vendia comia de rua, de tapioca gourmet a caldo de cana com pastel. Quanta vibração e energia naquela concentração de tipos humanos!
São Paulo é uma das maiores cidades do mundo e por isso mesmo é uma espécie de país. Dentro de São Paulo tem um pouco da Bahia, um pouco do Paraná, um pouco de Pernambuco e um pouco de Minas Gerais. Dentro de São Paulo tem uma Dinamarca e uma Nigéria. Tem Estados Unidos e Afeganistão.
Mais do que um desafio, essa diversidade pode ser também um grande polo difusor de cultura, arte e sinergia humana, desde que todas essas forças sejam corretamente endereçadas e amalgamadas. A comparação com a bem sucedida Nova York não parece uma abstração de todo absurda, pelo menos sob o prisma do que a diversidade é capaz de produzir.
O fechamento da Paulista sinaliza ainda que talvez um dos caminhos para tornar a cidade mais amigável para seus cidadãos seja justamente o oposto do que até hoje se tentou: dar mais espaço para as pessoas e menos espaço para os carros (além das medidas óbvias que já sabemos, como investir em transporte público eficiente). Nova York é uma cidade que abusa desse conceito. Em 2009, a cidade transformou uma linha de trem desativada numa espécie de parque público suspenso, repleto de árvores, plantas, espaços para descanso, performances e exposições temporárias de arte.
Passeando pela Avenida Paulista no domingo foi impossível não traçar um paralelo com a Avenida Atlântica no Rio de Janeiro e o incessante circular de seus moradores, ciclistas, turistas e atletas de final de semana.
É verdade que a areia, a água e a brisa do mar fazem uma falta danada no asfalto da Avenida Paulista, mas não tem como não concordar que essa nova praia dos paulistanos é muito melhor do que os templos de granito e concreto nos quais os paulistanos se digladiam por uma vaga de estacionamento aos finais de semana.
Assim, meu amigo, se estiver sem programa em São Paulo num domingo qualquer, meu conselho é:
– Vá à praia!