Banheiros

Uma vez li a entrevista de um arquiteto dizendo que o banheiro se transformou no grande destaque de seus projetos. Segundo ele, há famílias que projetam banheiros maiores do que a sala ou o próprio quarto.

Como ninguém mais se reúne na sala, nem a família janta junta, talvez não seja uma ideia de todo absurda.

Já há banheiros com Wi-Fi e TV a cabo, banheiro com banheira, banheiro com ofurô e banheiro com dois chuveiros e duas pias, para os casados em regime de separação de bens.

Mas já foi muito diferente. Aliás, não faz tanto tempo, muitas casas sequer tinham banheiro e no Brasil pobre e desigual que ainda habitamos, exemplos disso não faltam, país adentro. Não por acaso, em pesquisas de mercado, uma das perguntas que ajudam a ranquear o entrevistado como pertencente às classes ABCDE é justamente a quantidade de banheiros que possui no domicílio. Banheiro ainda é um sinal de distinção social. No Brasil arcaico e rural, banheiro era no mato e banho no rio.

Voltando mais ainda no tempo, diz a lenda que os gregos costumavam fazer suas necessidades em público e os romanos criaram áreas públicas com essa finalidade, onde as pessoas aproveitavam o “ensejo” para discutir política e socializar. No Brasil contemporâneo, a privada seria de fato um ótimo lugar para se discutir política.

Há relatos de cômodos nas residências destinados a essa finalidade há alguns milênios, mas a prática só se consolidou mesmo a partir do século XVII na Europa. O papel higiênico, por exemplo, só foi inventado em 1857 (embora os chineses aleguem terem inventado antes).

Mas se o banheiro residencial ganhou ares de nobreza os banheiros públicos também mudaram um bocado.

Lembro de um episódio do seriado Friends em que eles vão a um banheiro cuja porta de vidro transparente se esfumaça quando trancada, deixando a pessoa com aquela sensação de espiar e ser espiado, mesmo sabendo (será?) que não será visto. Uma espécie de exibicionismo casto.

Tenho uma amiga que morre de vergonha de ir em qualquer banheiro que não seja o da própria casa. Diz que seu intestino tem um GPS que detecta banheiros desconhecidos, mas quando não há escapatória, na casa de amigos, por exemplo, ela liga a torneira da pia para disfarçar qualquer ruído que suas atividades possam causar. Paranoia total. Ainda bem que não nasceu na Grécia Antiga.

Mas agora os banheiros públicos estão super modernos. Não tem mais aqueles sabonetes em que todo mundo metia a mão. Agora você espreme o sachê e já sai a espuma pronta, pra não ter nem que perder tempo esfregando a mão. Banheiro fast food. Fast soap.

E também nem precisa abrir a torneira, os sensores digitais fazem isso por você.

Falando em sensores, nada pode ser pior do que os sensores de luz desses banheiros. Você está lá sozinho fazendo o que precisa fazer, passam 10 segundos e todas as luzes se apagam, e então, no meio da atividade, você é obrigado a ficar se balançando feito um boneco inflável de posto de gasolina pra ver se o sensor insensível reconhece a sua presença e te dá um pouco de luz. Você sabe, naquela hora crítica, que essa é uma operação arriscada, mas mesmo assim balança seus membros (sem trocadilhos, por favor) na esperança de que a luz acenda.

E a tendência de eliminar o papel de secar as mãos dos banheiros? Pra economizar papel e pra gastar mais energia elétrica. Eu não sei você, mas eu tenho um certo incômodo de enfiar as mãos naqueles secadores estreitos, cujas bordas normalmente guardam os pelos dos usuários anteriores, e cujo timer de 10 segundos raramente é suficiente para você secar as mãos.

No Japão, dizem que o sanitário tem bordas aquecidas e ainda toca música. Pena que no Brasil ainda não possamos jogar as músicas que fazem sucesso no bueiro junto com a descarga também.

Seja como for, do mato ao trono da casa, é uma evolução tecnológica e tanto a que passou o banheiro. Mas talvez ainda demore o dia em que o número dois vire apenas uma sequência digital de zeros e uns, e possa ser deletado eletrônicamente por um aplicativo de celular. Pra azar da minha amiga paranoica que vai continuar desperdiçando água na casa dos amigos.

 

 

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