A proposta é pra lá de ousada: responder quem somos, de onde viemos, onde estamos, pra onde vamos e como queremos ir.
Aliás, não apenas a proposta, mas todo o projeto arquitetônico, um colosso futurista de vidro, metal e espelhos d’água com a marca inconfundível do arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Um projeto que consumiu 215 milhões de reais, que impressiona mas deixa um gosto amargo na boca quando se repara no entorno ainda muito pobre que recobra a cidade maravilhosa e os desvairios financeiros da capital fluminense dos últimos anos. Mas se for pra ser megalômano, antes com Museu, Educação e Cultura do que com estádios impagáveis.
A arquitetura é de fato um dos pontos altos do Museu do Amanhã no Rio de Janeiro. Moderna, sinuosa, escancaradamente branca, como se estivéssemos dentro de um filme de futuro distópico do Stanley Kubrick, uma laranja mecânica tropical. É museu, mas dialoga mais com o futuro do que com o passado, apesar da ambiciosa intenção de responder também de onde viemos.
Quase todas as instalações são eletrônicas: torres gigantes de LED, telas interativas, vídeos, painéis, infográficos. Um pequeno mosaico da babel digital na qual o mundo está se transformando.
Como pano de fundo fica sempre o recado, um pouco panfletário, mas nem por isso inverdadeiro, de que estamos afetando a sustentabilidade do planeta com nosso estilo de vida atual.
Descobri, por exemplo, que meu life style é pouco sustentável, porque como carne, viajo de avião, uso muitos equipamentos eletrônicos e ando pouco de bicicleta. Minha pegada ecológica é bem maior do que minhas Havaianas 44 poderiam supor.
Há também uma sala com um domo semiesférico para projeção de filmes de realidade virtual, onde é veiculado um curta metragem produzido por Fernando Meirelles, que mostra as conexões entre a vida na terra e a formação dos planetas e a imensidão do espaço. Uma espécie de História do Universo. Instrutivo e divertido também.
Além da arquitetura arrojada que dialoga com a Baía da Guanabara, gostei particularmente dos questionamentos que o Museu provoca e da tentativa de esticar o olhar para os fascinantes (ou distópicos?) milênios que virão.
Tenho que admitir que ao sair, continuei sem tanta clareza a respeito do lugar de onde viemos ou o lugar para onde vamos, o que talvez se deva mais a uma limitação do visitante do que do Museu.
Se um dia tiver a oportunidade de visitar, não deixe pra amanhã.