Acadêmicos do Tucuruvi, nota nove vírgula nove. Nove vírgula nove. Rosas de Ouro, nota nove vírgula oito. Nove vírgula oito.Mocidade Alegre, dez, nota dez.

Nove quesitos avaliados, quatro jurados, catorze escolas.  Quinhentos e quatro leituras individualizadas, lidas vagarosamente, como quem prepara um confit de pato que só será servido aos convivas no dia seguinte, após 12 horas de cozimento lento. Nem no Rio, cúmulo do samba, o ritual homeopático segue enredo diferente. Horas e horas de suspense decimal.

Na plateia, uma legião de carnavalescos, fritando suas lustrosas carecas e protuberantes panças momescas sob o sol escaldante de verão, armados até os dentes com bloquinhos de papel, canetas e lápis, esses artefatos ultrapassados que nem lembrava mais existirem. Túmulo do samba.

Zapeando impunemente meu controle remoto como um pierrot embriagado, me dei conta do absurdo da situação. Ao vivo e a cores, horas e horas da mais interminável apuração, como quem transmite em câmera lenta um dromedário manco com overdose de Rivotril cruzar as intermináveis dunas do deserto do Saara.

Já está mais do que na hora de aplicar um choque de gestão no Carnaval das maiores metrópoles brasileiras. Onde estão os renomados consultores do Rio e São Paulo para colocar um pouco de ordem e produtividade corporativa nesse antro de ineficiência carnavalesca? Presos em algum congestionamento?

Em primeiro lugar, já passou da hora de adotarem planilhas de Excel e slides de Power Point para divulgarem o resultado final numa tacada só, poupando o tempo dos telespectadores, além do fígado, careca e pança dos carnavalescos. Campeão, vice e rebaixados divulgados instantaneamente, duela a quem duela. Zapt! Como quem arranca um esparadrapo do peito do Tony Ramos.

E o exagero de fantasias extravagantes, penas de faisão, plumas e paetês, fazendo os foliões derreterem na avenida?  Anti ecológico, anti ergonômico, anti térmico e principalmente anti econômico. Sugiro uma reforma radical: menos roupa equivale a menos custos, menor gestão de suprimentos e principalmente mais audiência. Qual o sentido de atulhar com adornos esdrúxulos deusas de corpos esculturais que o público quer ver o menos vestidas possível?

E pra que aquele exército de 300 homens na bateria? Poderíamos selecionar estatisticamente uma amostra reduzida de integrantes, cujos sons seriam amplificados por potentes caixas acústicas, maximizando a produtividade por integrante e aumentando a receita, já que a bateria poderia ser patrocinada pelas pilhas alcalinas Duracell.

Os carros alegóricos, aqueles monstrengos capengas que volta e meia emperram na avenida, poderiam ser substituídos por carros mais modernos, de 16 válvulas e freios ABS, cujas montadoras exibiriam seus logotipos em troca de polpudas cotas de patrocínio.

Falando ainda em patrocínio, poderíamos adotar o Mc Donald’s como patrocinador oficial perpétuo dos concursos de Rei Momo.

Deveriam também agregar valor nos enredos, tornando-os mais globalizados e exportáveis para outros países. O primeiro e mais óbvio passo seria a criação de enredos bilíngues, em português e também inglês, num primeiro momento, para depois ampliarmos o leque para espanhol, italiano, francês e mandarim.

–       Look at the Flower Kisser there people! Cries cavaco !

Um dia ainda vou fundar a Unidos da Modernidade, mas enquanto ninguém descobre meu talento de carnavalesco, vou curtindo o desfile pirotécnico da Salgueiro, que apesar de todo o atraso reinante no mundo do samba, está bem moderninha.

– Vocês viram aquela integrante levitando no meio da avenida?

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