Longe de tudo, dentro de si mesmo

Longe de tudo, dentro de si mesmo

Longe de tudo, dentro de si mesmo

É quase impossível falar em solidão sem projetar cenários sombrios de abandono, tristeza e rejeição. Nascemos e morremos sozinhos, mas a perspectiva do isolamento é sempre aterradora. Somos seres essencialmente sociais e a solidão pode ser um sentimento muito destrutivo.

Ter amigos e uma vida social ativa e saudável é fundamental para sermos felizes, mas acho que a solidão pode ser muito positiva, um afastamento temporário da balbúrdia do cotidiano para mergulhar nas profundezas de si mesmo.

É no silêncio que se escuta melhor. E na placidez do recolhimento também se enxerga as coisas com maior clareza. Fernando Pessoa dizia que a liberdade é a possibilidade do isolamento, e que aquele que não consegue ficar só consigo mesmo é um escravo dos outros.

Tem gente que detesta a própria companhia e não suporta a sensação de estar só, para não ter que se defrontar com a aterrorizante realidade do seu “eu” interior. As pessoas estão sempre analisando todo mundo, mas muito pouco dispostas a dar um passeio pelas misteriosas profundezas de si próprias.

Vivemos num mundo saturado de estímulos. Muito ruído e pouca reflexão. Muita superfície e pouca profundidade. Muita gente e pouca conexão.

Todo mundo sabe, a pior de todas é sua versão mais difundida, a solidão em meio à multidão. Solidão tem mais a ver com falta de conexão (real) e propósito do que com isolamento.

A solidão voluntária pode ser a busca saudável de um espaço só seu, onde você possa refletir e entender melhor como se relaciona com o mundo a sua volta. Pode ser importante para criar e se reinventar. Não é a toa que grandes artistas produziram suas melhores obras em momentos de isolamento, voluntário ou não.

E para os relacionamentos, acho a solidão ainda mais necessária. Amor raramente é a junção de duas metades iguais, mas na maior parte das vezes, a união de dois indivíduos distintos, que se completam justamente porque são diferentes e respeitam essas diferenças.

Uma vida sem ninguém pode ser tão triste quanto uma existência longe de si mesmo.

Sem recolhimento não é possível refletir, e uma vida sem reflexão é quase sempre uma vida em vão, o que quase sempre, é também pior do que a solidão.

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