Era para estar sentada ali, cabeça recostada à janela, como fazia todas as noites após a faculdade. Mas naquele dia Hikary Buenos, ou Hika, como era conhecida pelos amigos, se atrasou cinco minutos e perdeu o ônibus fretado que a levaria à faculdade de jornalismo em Mogi das Cruzes. Perdeu a aula. Perdeu diversos amigos. Salvou a vida.
Janaína não. Não era para ela estar naquela noite naquele ônibus que ceifou sua vida. Ela só utilizava a linha às sextas feiras, nunca às quartas. Mas naquele dia, por alguma razão que hoje nos faltam testemunhas para explicar, ela resolveu ir dois dias antes para o litoral. E nunca chegou, nem nunca mais terminará o curso de Farmácia, que concluiria este ano.
Duas vidas, duas histórias, salvas e dragadas apenas pela força indomável e misteriosa do imponderável.
A gente pensa que tem controle sobre a vida, sobre nosso destino, sobre os acontecimentos. Temos alguma influência, é fato, mas jamais controle absoluto. Nosso destino é a soma imponderável de nossas escolhas e dos desígnios do acaso.
Todos os dias escapamos ilesos de uma série incontrolável de eventos, salvos por mãos invisíveis que jamais saberemos, se Anjos da Guarda ou Deuses da Aleatoriedade Estatística.
Conquanto seja certo que não podemos prever as conseqüências gigantescas de variações minúsculas (cinco minutos salvaram a vida de Hikary), o melhor é sabermos que a vida é feita de escolhas, e que temos que fazer sempre as melhores com base na nossa escala própria de valores, princípios e na nossa bússola de propósitos de vida.
E quanto à aleatoriedade da vida, não há muito o que possamos fazer.
É esse mistério que torna nossas vidas singulares e especiais, e a aventura de viver uma trajetória única, misteriosamente bela, em seus contornos trágicos ou mágicos.
Aproveite sua vida!
