Vasculharam todas as contas, poupanças, bolsos e porta-moedas. Até o cofrinho do pequeno Igor foi sacrificado, mas não havia jeito. As tão aguardadas férias na praia teriam que ser canceladas.
#naovaiterpraia Logo tuitou a filha adolescente, revoltada com o desfecho lacônico daquele sonho de uma noite de verão.
Era a primeira vez em uma década que ficariam em casa nas férias.
Dona Marta até tentou esconder a delação, mas logo a notícia vazou: ele andava perdendo dinheiro no pôquer das quartas-feiras e o dinheiro das férias se esvaiu numa mesa encardida de carpete verde.
Foi um rebuliço na casa e não tardou para que Tácito, candidato a genro, surgisse com a brilhante ideia:
Vamos fazer o impeachment do Seu Miltão!
No começo a ideia causou desconforto, principalmente pela falta de credibilidade do propositor. Mas logo a tese começou a ganhar apoio.
Desviar dinheiro de uma finalidade tão nobre quanto as férias na praia para uma atividade vil como a jogatina era de fato uma espécie de improbidade familiar. Uma pedalada no orçamento doméstico, digamos assim.
Miltão, que comandava as finanças da casa desde os tempos em que a Portuguesa jogava na primeira divisão, ficou inconformado com a situação e acusou o genro de golpista.
Marcaram a votação para a noite do domingo.
Em sua defesa, Miltão atacou. Alegou que todo mundo também deu suas pedaladas. Dona Marta gastou uma pequena fortuna colocando botox. Rogério bateu o carro. Marcela estourou o cartão no shopping. E Tácito, o cunhado, deveria arrumar um emprego e contribuir para o orçamento antes de propor o impeachment alheio.
Além disso, contrariando o retrospecto, na última quarta os ventos do pôquer sopraram alvissareiros para o Miltão, que ganhou uma gorda bolada. Não foi o suficiente para salvar as férias no nordeste, mas deu para comprar duas suculentas pizzas pepperoni e algumas cervejas artesanais.
O genro foi o primeiro a votar pela manutenção do Miltao no cargo.
Não foram pra praia, mas a pizza estava uma delícia.
E deram o processo por arquivado.