As lições que a derrota ensina

david luizO Brasil sofreu a mais humilhante derrota que uma seleção canarinho já experimentou em toda sua gloriosa história. O equivalente futebolístico ao atentado terrorista de 11 de setembro de 2001.

Entre a feijoada e o chucrute, venceu o salsichão alemão. Sete a um.

Não, não vou aqui discorrer sobre esquemas táticos, estilos de jogo, a paralisia do Fred ou o papel do volante na armação das jogadas, porque sou incompetente demais para tanto.

Mas acho que temos que tirar lições dessa derrota, e elas vão muito além do futebol.

Primeiramente, é preciso coerência. Antes do jogo éramos o máximo, vestíamo-nos de amarelo e nos enrolávamos na bandeira cantando o hino com a mão no coração. Descortinada a derrota, incendiamos bandeiras, amaldiçoamos ídolos e vociferamos feito vira-latas bi polares nosso atraso tupiniquim em face da eficiência germânica.

Constrangedora imaturidade. Entre o preto e o branco há uma imensa gama de tons de cinza. A derrota é apenas a face reversa da vitória. A beleza do esporte reside justamente na possibilidade de lutar e superar as dificuldades. Quem não sabe aceitar a derrota não é digno dos louros da vitória.

No esporte, na política ou na vida, estamos sempre buscando um super herói que nos carregue nas costas e consiga com seus super poderes arrancar-nos dessa letargia malemolente que nos acomete desde que os primeiros colonizadores trocaram ouro por espelhinhos. Heróis e líderes são importantes na história de países e empresas, mas quase sempre é a força coletiva, o trabalho duro, persistente e organizado de todos, que produz melhores efeitos no longo prazo. Os japoneses e seu longo histórico de tragédias e superações, são um exemplo vivo disso. Neymar nenhum vai preencher com gols o vazio que nos falta como nação.

torcida_derrota-eduardonicolau-aeEste oito de julho infeliz fez reverberar em mim a derrota da copa de 82, embora aquela tenha se dado sob circunstâncias mais dignas, com um apertado 3 a 2. Tenho dois filhos e ver crianças chorando copiosamente Brasil afora é de partir o coração. Mas tenho uma visão diferente. Acho que a derrota e a tristeza são aprendizados para a vida. No nosso percurso teremos momentos de sucesso e fracasso, riso e choro, e é isso que torna nossa caminhada singular. Super proteção pode acabar gerando adultos mimados, incapazes de lidar com as frustrações que a vida impõe. Aliás, não duvido que isso guarde alguma conexão com a escalada industrial de consumo de drogas mundo afora.

Por fim, temos que convir que apesar dessa derrota maiúscula, a seleção conseguiu chegar entre as quatro melhores do mundo, o que não é pouco, principalmente considerando o futebol limitado que apresentamos durante toda a copa. E se faltou brilho, vi jogadores mais lutadores e empenhados do que nas copas anteriores, cheias de estrelinhas de salto alto.
Mas antes de nos incomodarmos com o quarto lugar na copa deveríamos nos indignar com o penúltimo lugar que nossas crianças sistematicamente obtêm nos testes internacionais de português e matemática, com as enormes taxas de homicídios e com nosso índice medíocre de desenvolvimento econômico.

Muito triste essa derrota, mas no final das contas é apenas um jogo e a vida segue seu curso inevitável. A vida real segue nos esperando fora dos estádios milionários, dentro das casas, escritórios, salas de aula, leitos de hospital e ônibus engarrafados.

Faz tempo que freqüentamos a terceira divisão de um monte de copas mais importantes que a de futebol, e isso sim, é a goleada mais humilhante que uma nação pode sofrer.

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