Cem anos de atraso e solidão

Gabo: a justa homenagem

Gabo: a justa homenagem

Pisava solo espanhol naquele dezessete de abril, quando soube que o escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez, ganhador do Nobel de Literatura e autor do reverenciado “Cem anos de solidão”, tinha partido deste para um lugar mais condizente com a dimensão de suas fantasias.

Fiquei surpreso com o gigantismo da repercussão de sua morte na imprensa espanhola. Os principais jornais do país dedicaram ao caso a quase totalidade de sua primeira página e generosos cadernos especiais que cobriam a obra do escritor e seu inestimável legado.

No Brasil, a cobertura foi incomparavelmente menor. Claro que temos a influência do fator linguístico, já que Gabo, como era carinhosamente conhecido, talvez fosse mais relevante para os países hispânicos, em que pese a universalidade de seus romances.

Não critico as publicações brasileiras, que possuem um conteúdo alinhado à demanda de seu publico leitor. Não é surpresa para ninguém que a literatura está muito longe (e põe longe nisso), de ter qualquer relevância num país onde não resolvemos o problema da educação básica e crianças saem da escola sem conseguir interpretar um texto.

Natural, portanto, que celebridades acéfalas, corrupção e a dose diária e tragédias que recheiam nosso inferno urbano, tenham destaque maior.

Nesta viagem pude perceber com maior clareza a importância que a literatura ainda possui no velho mundo. Ótimos suplementos literários, escritores nas TV’s, gente lendo no metrô e uma grande quantidade de livrarias, ainda que por lá também se discuta o fim delas, com o advento do livro digital e a emergência de um jovem viciado no consumo de informação curta e fragmentada.

Cidadãos que não lêem são apenas a ponta do iceberg de um problema muito maior: o de um país que não da à Educação a relevância e a prioridade que os novos tempos impõem. País que não faz a lição de casa fica de castigo, condenado a repetir, ano após ano, o pré primário da cada dia mais competitiva Economia global.

E assim, sem livros ou Educação, na nossa iletrada Macondo tupiniquim, estaremos condenando as próximas gerações a mais cem anos de atraso e solidão.

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